Os encontros e desencontros com o uso excessivo dos meios digitais têm causado vários transtornos, basta olhar a nossa volta na via pública, ou no transporte, nos restaurantes , ou no reduto íntimo dos quartos escuros de nossas casas, o domínio digital tomou proporções não vista a poucos anos atrás.
– Caminhando um dia pela avenida mais charmosa de minha cidade, percebi alguém conversando sozinho, pensei deve ser algum transtorno, perturbação, esquizofrenia . . . para minha surpresa, é que depois, vim saber que era um dos primeiros celulares Bluetooth com microfone embutido, ri muito, mas na hora fiquei assustado. Várias outras situações vem acontecendo de lá para cá, no metrô já presenciei pessoas passando da estação, mesmo com a voz avisando nos auto-falantes, outros onde deveriam saltar, saem em disparada antes da porta fechar.
A grande maioria dos passageiros usam seus fones, com os olhos presos na telinha do smartphones parecem estar em outro mundo. Já testemunhei , como outras pessoas também viram, frequentadores dos restaurantes, na mesma mesa sem conversarem ou comerem, presas ao aparelho.
Trabalhando em um shopping encontrei uma criança com menos de cinco anos, chorando no meio da multidão, afoitas com as compras do natal, todos que passavam por ali, nem notaram aquela garotinha chorando, segui os passos dela por alguns minutos e ninguém percebeu, enfim peguei a menina em meu colo que chorava muito, chamando pela mãe, levei até um segurança que procurou localizar a responsável, disse a mim mesmo, vou esperar pra ver quem é, e como está o emocional dessa Mamãe, pouco depois chegou e resolvi perguntar como ela senhora havia perdido sua filha, me disse que estava no celular e não viu a menina se afastar!
Chegada a era digital, os manuseios com os aparelhos se intensificam os vícios e a dependência digital surgem centralizados no confortável Smartphone que reúne tudo que precisamos num lugar só. Será que tudo mesmo?
A expansão desses aparelhos e seu uso crescente nas estatísticas, somados aos aplicativos de todos os tipos, mais as redes sociais, criaram de forma espantosa a dependência do uso, com consequências no comportamento e nos distúrbios psicológicos, como fobia social, ansiedade, transtorno bipolar do humor, depressão, pânico, déficit de atenção e hiperatividade, entre outros.
Sem o controle, o uso acaba por comprometer a saúde mental e física do usuário, deixando ser uma bela ferramenta para virar um problema. Essa dependência está também no campo da virtualidade e afeta os campos subjetivos e cognitivos do sujeito e o adoecimento pelo uso excessivo, causando entraves, criando obscuridades e obstruções no comportamento, e algo que seria um bom instrumento passa a ser a causa de angustias diuturnas.
Esse problema nomeamos na área de psicologia de nomofobia, isto é, a dependência digital a qual atrelamos o nosso viver, causa angústia, dor, ao ficarmos sem ou distante do aparelho e pelo número de acessos ficamos dominados, adoecemos.
Para todas as questões existem chaves, códigos, senhas que nos abrem os acessos, por isso precisamos abrir caminho para o uso saudável dos aparelhos tecnicamente e emocionalmente. A psicoterapia é uma possibilidade de alterarmos e aprendermos a lidar com essas situações contemporâneas em nossa vida na sociedade.
Ela auxiliará você a encontrar caminhos para retomar os laços afetivos, as relações pessoais, a desfrutar das ações presenciais, pois ao entrar nos ambientes virtuais e vivê-los em demasia nos afastamos da nossa própria natureza e do conhecimento de si mesmos.
Buscar qualidade de vida, não é possuir o melhor aparelho ou a melhor conexão, e sim se conectar com a nossa essência e vivermos sem artifícios e dependências.
Viver é mais que estar on-line, precisamos respirar, nos alimentar, exercitarmos fisicamente e estarmos em contato com as possibilidades básicas do ser humano, pois o excesso nos torna frágeis, nos isola, mesmo em contato com milhares de pessoas. Passamos a nos sentir como pessoas de vozes mudas, ouvidos surdos e de visão distorcida mesmo com todos os recursos de comunicação.
Somos mais e melhores que toda essa poluição tecnológica que ofusca nossa real existência e nos torna dependentes!
Luiz Fernando | Psicólogo Clínico